sábado, 31 de outubro de 2009

Sinais Vitais


Pois é.
Técnicas de enfermagem, assim como em qualquer profissão devem ter muito amor pelo que fazem.
Tinham algumas bem divertidas. Outras, davam medo.

Da primeira vez que fui tomar banho no hospital, a técnica me levou até o box e me largou lá, com um pé só e duas mãos pra me equilibrar. Tive que me virar nos trinta pra não me esborrachar no chão!
Depois disso só tomava banho quando minha mãe chegava.

Uma vez eu não quis esperar a minha mãe. Aproveitei que uma delas tinha cara de boazinha e resolví pagar pra ver.
Ela ficou comigo no banheiro e ainda depilou minha perna pra cirurgia:
- oh, vc é tão boazinha. Uma colega sua me largou aqui sozinha uma vez, fiquei traumatizada!
- eu faço o que é certo porquê a gente nunca sabe como será o dia de amanhã.

Duas ou três vezes ao dia, as técnicas faziam controle dos sinais vitais: aferiam a pressão arterial, a pulsação e a temperatura.
A minha pressão dava sempre 100 X 70 mmHg ou 110 X 70 mmgH
- Está ótima! - era o que eu sempre ouvia

Tinha uma delas que aferia de modo estranho. E como eu entendo de estetoscópios e esfigmomanômetros, percebia que ela não estava me examinando da maneira correta.
Com ela a minha pressão dava sempre 120 X 80 mmHg, que é geralmente a pressão "ótima" dos seres humanos.
- Está ótima!
- ¬¬

Tramal


Tomei mais duas doses do meu coquetel contra dor. Uma pela tarde e outra às dez da noite.
Como havia comentado antes, o Tramal causa muito enjôo. Quando eu tomei à noite, a enfermeira "abriu" o Tramal de modo que ele entrava numa frequência bem maior de gotas dentro da minha veia que antes. Resultado: comecei a sentir tonturas.
Suava frio, dava vontade de vomitar. Pedí à minha mãe pra apertar o botão que acionava a enfermeira. Até que uma delas chegou:
- a pressão dela está boa, 120 X 80 mmHg
E foi embora!

Continuei a passar mal, minha mãe apertou novamente o botão. Chegou uma outra técnica, dassa vez, humana:
- a pressão está boa, 120 X 80 mmHg. Coloque a cabeça pra baixo! Deite! Deve ter sido o Tramal. Vou diminuir o gotejamento.

E então, foi passando a tontura.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

tornozeleira quente


-já acordada, menina?
Eram seis da manhã e o médico residente veio me ver.
- estou pensando em te dar alta hoje.
- (como é que vc faz isso comigo, rs - pensei) eu tou sentindo dor!

O efeito da anestesia estava passando, e uma dor crucial tomava conta do meu tornozelo. Parecia que estavam apertando uma tornozeleira quente no meu pé, que invadia a pele e músculos até o osso.
Tomei na veia: dipirona, tramal, dramin e clidamicina.
O dramin foi administrado porquê o tramal causa muitos efeitos colaterais, como enjôos, nauseas e tonturas.

- ok. você vai tomar a medicação e depois você me diz se vai querer a alta hoje ou amanhã bem cedinho. Eu pensei em te dar alta pois a recuperação em casa é melhor, além de você não correr risco de infecção hospitalar.

Eu também morro de medo de infecção hospitalar, mas preferí ir no outro dia, pq fiquei com medo de os medicamentos prescritos pra tomar em casa não serem suficientes pra sanar a dor. Tava flórida.

mingau com iogurte


Demorou uma hora e meia mais do que o previsto, mas nada que um bom repouso não resolva. Pretendo postar aqui os detalhes sórdidos da operação, mas pra isso precisarei entrevistar meu irmão, tastemunha ocular.

O enfermeiro me levou para a sala de recuperação anestésica, e meus pés não respondiam aos meus sinais. A raqui é mesmo bem potente.

Dormí um pouquinho e fui pra o meu leito.
Minha mãe, tadinha, estava toda azuada, e ficou feliz com a minha chegada.
A senhora da cozinha me trouxe mingau com iogurte. Eu não entendo essas misturebas. Tomei o mingau e dei o iogurte pra minha mãe.

o baba da segunda-feira


Eu não lembro de muitas coisas durante a cirurgia.
Lembro que teve uma hora que eu comecei a rir, acho que alguém falou algo engraçado, mas...
- já está começando a fazer efeito, hein, monalisa? - disse a anestesista
Teve uma hora que eu acordei morrendo de frio. Procurei meu irmão e ele não tava. Olhei pra trás e chamei uma senhora:
- ei, eu tou com frio!
Ela colocou algo pra proteger o meu rosto, e tive a impressão de que ela injetou mais Dormonid.
Quando acordei novamente, a cirurgia já havia terminado. Eram dez da noite, o que significava que foram 3hs de cirurgia. Acabei com o baba de segunda-feira da galera.
Ví o médico residente(L)engessando meu pé, e meu irmão perguntando pra ele:
- e aí, Samuel, encara uma dessa sozinho da próxima vez?
- ( ele fez uma cara de "Não, tão cedo não encaro" )
Xí, será que foi pepino?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

arriba!


Meu irmão entrou na sala e então eu respirei aliviada. Alguém sangue do seu sangue, A Positivo, observando tudo, é muito bom...

"E aí, Monalisa! É o pé direito ou o esquerdo que a gente vai operar?"
Dá pra ver que o clima era de animação no centro cirúrgico!

De repente, chegou a anestesista.
Ué? Eu achava que era o tal de Marcius!
A anestesista era uma senhora com cara de professora daquelas bem cri-cri, que dá zero pra todo mundo que ela não vai com a cara.
Isso me deixou mais aliviada, porque pra ser chatinha daquele jeito, metódica demais, ela tinha que ser muito boa como profissional.

E então, ela pegou minha veia!
Ê lelê, fiquei zonzinha, parecia que tinha tomado três doses de tequila. Mas acho que foi Dormonid.

A tal da raqui nem doeu. Senti um furinho nas minhas costas que entrava em algo gelatinoso dentro de mim. Logo logo senti a minha perna dormente, e a última coisa que vi foi o tal médico residente responsável por mim (L) ensaboando minha perna. Ele esfregava que nem roupa suja.

17:00hs


Eu tive que confessar: estava com medo.
Me senti boba, infantil, mas foi bem melhor depois que contei pra minha mãe, meu irmão e a enfermeira.
Entrei no centro cirúrgico e me tranquilizei. Ele era bem mais compacto que nos filmes e novelas, era um ambiente familiar. Me lembrava as aulas práticas de periodontia, implante e cirurgia da faculdade.

- quem é a paciente de Dr. Marcelo?
- (levantei o dedo)
- oi! meu nome é Marcius, sou o anestesista - ele falou bem simpático
- doutor, eu estou tensa!
- depois que você me der sua veia essa tensão vai passar rapidinho!

Ui!

A Raqui


Pense num dia tenso?
Passei o dia fazendo contagem regressiva.
Tomei um café da manhã que foi praticamente só um iogurte, e levei um jejum de oito horas sem a menor vontade de comer, só na expectativa.

A grande responsável pelo meu estado emocional de tensão foi a tal da Raquianestesia, que segundo a Wikipedia:

"Também chamada de anestesia intra-tecal e anestesia subaracnoídea, baseia-se na administração de anestésico local diretamente no líquor. Suas principais vantagens são início rápido de ação (curta latência, boa intensidade de bloqueio sensitivo e motor e possibilidade de analgesia pós-operatória prolongada."

Sempre ouví muitos terrores sobre essa técnica. Usada nas gestantes, todas elas dizem que dói bastante e que, por causa dela, você sentirá dor na coluna pro resto da vida.
A primeira coisa que fiz então foi perguntar ao anestesista se isso era verdade. O primeiro que tive acesso era um estagiário, e me respondeu toscamente que, a anestesia não me provocará dor para o resto da vida, mesmo porquê a função da anestesia é retirar a dor.
Hum???
Ok, entendi, aquela história toda não passa de um mito.

Outra coisa que me deixava tensa é que, como eu só seria anestesiada da cintura pra baixo, e permaneceria consciente, o meu maior medo era ficar ouvindo comentários da equipe médica. Como eu entendo um pouco sobre ossos, inervações, parafusos de titânio y otras cositas más; se eu entendesse que o meu caso virou pepino, seria pânico na certa.

Uebaaaaaaa!



O plano autorizou o material!
Cirurgia marcada para segunda-feira, às 17hs!
Nunca vi ninguém ficar tão feliz em ter a cirurgia agendada.
Quase pulei de alegria!!!

Cotidiano

"Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã..."



Todo mundo fica meio assustado quando eu digo que precisei me internar. A coisa aparenta ser bem mais grave do que realmente é.
A grande questão na verdade é que, como eu já disse antes, para fazer a cirurgia eu preciso, em primeiro lugar, que o meu pé desinche. Se eu ficasse em casa, o edema não iria embora tão cedo. Eu não ficaria quieta. Seria da cama pra cozinha, da cozinha pro computador, pra cama dos meus pais, pro telefone, e por aí vai.
Aqui no hospital eu levanto só, e somente só, pra tomar banho. Os pés sempre levantados, remedinho e comidinha na mão e na hora certa.
Como dizem os mais velhos, Deus sabe o que faz, e a gente não sabe o que diz. Os meus pés estão bem mais desinchados que na sexta-feira, dia que seria a cirurgia. O acesso, a recuperação e o prognóstico é bem mais favorável que antes!

domingo, 25 de outubro de 2009

O nosso amor a gente inventa


Como dizia Cazuza, "o nosso amor a gente inventa, pra se distrair".
E como eu não tenho o que fazer, resolví me apaixonar pelo médico residente responsável por mim.

Ele é uma graciiiiiinha, todo cute. Me acorda todo dia às cinco da manhã pra saber como eu estou. E sempre faz a pergunta pegando na minha mão.
Me prescreve lactulose, luftal e dipirona. É um amor.

Ele deve fazer isso com todas, mas é bom se distrair :)

Alto, aqui, do quarto andar.


Tou de saco cheio.
A comida é gostosa, tou fazendo "amizades de hospital", mas é muito ruim ficar o tempo todo deitada, longe do mundo lá fora.
Ontem chorei tudo o que eu tinha pra chorar. Tou com saudade da minha vida, quero ir pro show de Eddie dia 08 de novembro.
Uma amiga me ligou:
- oi, Moninha, tá boazinha?
- oh, Jô, tou de saco cheio de ficar aqui dentro
- mas tenha paciência, já já você sai daí
- tudo bem, Jô. Pode ficar tranquila que eu não vou fugir pela janela. Estou no quarto andar!



Edema


Estou aqui de molho desde a segunda-feira. Isso porquê eu preciso que o inchaço do meu pé se desfaça para que o pé possa ser operado da melhor forma.
Era para eu ter feito a cirurgia na sexta-feira, mas não pude pois o plano de saúde não liberou os materiais necessários para a cirurgia: dois parafusos de titânio e dois fios que talvez seja para sutura, não sei.
O plano não havia autorizado simplesmente porquê o hospital não havia enviado o laudo da tomografia nem do raio x para o plano. Isso eu descobrí pq meu irmão trabalha aquí. Via de regra eles colocam a culpa no plano.

Ahhhhh, pirei!
Chamei a assistente social e reclamei! Que absurdo! Isso é uma falta de consideração com o paciente! Acha que é fácil ficar aqui mofando com o mundo lá fora me esperando?
- ah, mas os médicos que deveriam ter observado o porquê de o material não ter sido liberado. - disse a assistente.
- os médicos não têem obrigação nenhuma de fazer isso. Isso é função da administração, eles são pagos pra isso.
- ah, senhora, vou estar observando o porquê de estar ocorrendo este tipo de problema, e estar repassando a sua reclamação para o setor responsável.

Ninguém merece esse gerundismo.

A portaria



Não tem coisa melhor que você estar no hospital e receber visitas. Só que você só tem direito à duas por vez.

Ahhhhhhhhh, muito pouco, pô.

Ontem rolou confusão. Todo mundo querendo subir pra o quarto da Monalisa.
Eram cinco visitantes tentando burlar a portaria a qualquer custo: trocando os adesivos, dizendo que alguém está descendo pra trocar de lugar, entrando na clandestinidade...
Não teve jeito. O porteiro resolveu pesquisar à fundo a quantidade de visitantes do quarto "daquela Monalisa" e mandou todo mundo descer:
- só podem dois! eu ví que tinha uma de blusa branca, uma de blusa azul, tá todo mundo lá em cima! Eu já levei advertência por causa disso! Só podem dois acompanhantes!

O quarto da Monalisa está visado.

Quarto X Enfermaria


Sou eu mesma quem paga o meu plano de saúde.

Como jovens não ficam doentes, optei por um plano enfermaria, que é 100 reais mais barato.

Tudo bem que você não fica só, mas...

- há uma rotatividade de pacientes muito grande, e vc nunca sabe quem está do seu lado...

- tem uma galera meio baixo astral, que pode ser visitante ou até mesmo paciente, que fala alto e o celular quando toca, são músicas de pagode em alto e bom som. Eles não conhecem o sistema vibra call

- tem uns que são evangélicos, que elaboram verdadeiras sessões de descarrego dentro da enfermaria. Esses eu nem me importo muito: além de ser engraçado, não deixa de ser vibração positiva. Chato fica quando eles inventam de ligar o radinho com músicas evangélicas pra todo mundo ouvir. Eles desconhecem o sistema de fones de ouvido.

- acompanhante séptico sem-noção. Ele vem "cuidar" do enfermo com doença infecto-contagiosa ativa:
No meu segundo dia internada, tinha uma acompanhante séptica sem-noção, contaminando o ar e todas as superfícies que tocava com o vírus da gripe. Chamei a enfermeira em particular e fiz a reclamação:
"Eu vim aqui pra ficar boa, e não pra ficar doente!"
A acompanhante séptica sem-noção foi advertida e trocada por um acompanhante normal.

Pois é. Assim quando der, mudarei meu plano para apartamento. Vale à pena.

don't take yourself so seriously


Resolví relaxar.
Serão de 8 a 12 semanas de recuperação pós cirúrgica.
Nada de trabalho. Serão férias forçadas, depois de cinco anos de profissão. Eu mereço!!!

Fui transferida pra enfermaria. Aqui é mais divertido: companheiros de quarto, amizades mais sólidas. Tv no quarto e conexão com a internet.
Meu celular não pára de tocar e vibrar com mensagens dos amigos. É bom demais saber que tenho bons amigos, para todas a horas.

Tenho certeza que sairei dessa fase com o pé recuperado e muito melhor como pessoa. Pé engessado é terapia intensiva na certa!

Como diria Carol, uma amiga, eu estou no leito 415. 4 +5+1=10. 1+0=1. O número um na numerologia significa renovação.

Bem vindo ao Paraíso


Fui na segunda-feira para o Hospital São Rafael. Me recomendaram um médico de lá, especialista em cirurgia de tornozelo. Nem sabia que existia.

Nossa! Nunca ví um hospital particular tão intupido. Macas pelo corredor, pacientes reclamando... me sentí SUS. É a crise da saúde na Bahia.
Inicialmente fiquei na emergência, esperando uma vaga para a internação. Tava com fome, e ninguém me dava informações sobre a comida.
Às 20hs, recebi mingau de tapioca, iogurte de morango, pão de ontem e queijo amarelo frio. Tudo que eu odeio.
Voltei a chorar: preciso de serotonina.

Tálus


O meu maior receio era que meus pais fossem me buscar e ficassem me dando sermão que nem o porteiro. Ah, já bastava a minha consciência!

Eles foram maravilhosos. Simplesmente pegaram meus documentos e me levaram pra o hospital.
Chorei e pedí desculpas por ter agido tão impulsivamente.

Minha mãe classificou a minha reação como instinto de sobrevivência.

Achei que tinha torcido o pé. Após algumas incidências radiográficas, foi constatada uma fratura num ossinho do tornozelo chamado tálus. Ele se dividiu em dois e a porção anterior se deslocou pra baixo. Teria que operar: colocar dois pinos de titânio unindo os fragmentos reposicionados. Um tratamento conservador me deixaria com o pé torto e dor crônica por toda a vida.
Sem dúvidas, aceitei a cirurgia. Deus me livre de nunca mais poder usar salto alto!

Freud explica.


- ah, que bom que é você a mãe de Vitória! - disse eu.
- já eu não posso dizer o mesmo. Preferia que não tivesse sido você.

Deitei na cama da companheira do menino gordinho, e a vendedora de pastel começou a limpar meus ferimentos.
Me sentí num divã, e comecei a ordenar meus pensamentos como se eu estivesse de frente pra minha analista.

Eu havia sido assaltada à um ano num microônibus quando voltava do trabalho. Me assustei quando ví o bandido armado no fundo do ônibus, mas respirei fundo e comecei a arquitetar a melhor hora pra escapar daquele lugar, como se fosse possível adivinhar as reações do bandido. Se eu tivesse agido impulsivamente, talvez tivesse escapado na hora em que o primeiro passageiro saiu, mas preferí aguardar. Quando o ônibus se aproximou do ponto seguinte, eu levantei e pedí ao motorista pra parar, bem discretamente. Mas o meliante percebeu e deu a voz de assalto.
Que droga! Se eu tivesse agido rápido, teria escapado.

Gravei no meu inconsciente ou subconsciente, não sei, que nessas situações eu deveria agir impulsivamente.

Fiz da vendedora de pastel a minha analista, e comecei a chorar.
Não tem coisa pior que sentimento de culpa.

Pastel de Frango com milho e mussarela


No meio do caminho em direção à guarita, duas crianças vieram até mim.
- o que foi que aconteceu??? - perguntou um menino gordinho e bochechudo que aparentava ter uns doze anos.
- um ladrão tava querendo invadir o meu apartamento, daí eu pulei da janela - falei, com a maior naturalidade, esquecendo que poderia influenciá-lo negativemente.
- CARAMBA!!! E você pulou de onde?
- dalí - e apontei para a janela do meu apartamento.
- CARAMBA!!! Como você fez isso???
- Ai, meu pé tá doendo. Acho que assistí muitos filmes de ação.

Sentei na cadeira do porteiro, que me deu vários sermões. Ihh, que saco.
A adrenalina já estava baixando, e eu tava me dando conta da doidera que eu fiz.

- qual o telefone do seu pai? da sua mãe? da sua tia? do seu irmão?
Ninguém atendia.

A menina companheira do menino bochechudo era bem carinhosa. Passava a mão na minha cabeça, e:
- vc quer água?
- se vc puder me trazer um analgésico... qualquer um, não sou alérgica não.
Ela me veio com um Tylex. E continuou o festival de perguntas:
- como é seu nome?
- você tem quantos anos?
- em que série você tá?

Como a minha família estava incomunicável, ela teve a brilhante idéia:
- vou chamar a minha mãe e a gente te leva pra minha casa.
- ok!

A mãe dela era a vendedora de pastel. Os pastéis dela são maravilhosos e ela sempre muito gentil. Sempre que eu sentia que a gordura não iria pesar na minha consciência, comprava um de frango, com milho e mussarela.

Le Parkour


Me inspirei no Le Parkour, e pulei.
Tinha certeza de que daria tudo certo. Achei a altura do primeiro andar bobagem.

Segundo a Wikipedia:
"Parkour é uma atividade física que é difícil de categorizar. Não é um esporte radical, mas uma arte ou disciplina que assemelha-se a auto-defesa nas artes marciais. De acordo com o fundador David Belle, o espírito no Parkour é guiado em parte a superar todos os obstáculos em seu próprio caminho, como se estivesse em uma emergência. Assim como as artes marciais são uma forma de treinamento para a luta, parkour é uma forma de treinamento para a fuga."

Pulei, rolei no chão, levantei e saí andando em direção à guarita do condomínio do fundo do meu prédio.
A adrenalina estava à mil. Até que... ai, acho que torcí o pé.

Quebrei o pé.

Domingo, duas da tarde.
Estou eu dormindo, tentando me recuperar da noite perdida anterior, quando meu irmão me acorda, dizendo pra eu tomar cuidado. Bandidos haviam invadido o meu prédio, e parecia que ainda estavam por lá. Era pra eu tomar cuidado, já que ele - meu irmão - estava saindo.
Fui levá-lo até a porta, ele sai, e, de repente, um homem aparece e começa a falar:
- abra essa porta, mermão! eu vi você saindo, você está com a chave! abra, abra!
E começa a dar chutes na porta.
Eu, assustada, pensei: o bandido fez meu irmão de refém e vai entrar, afinal, meu irmão está com a chave.
Não pensei duas vezes: vou pular da janela.
E pulei!